A rua XV de Novembro em Guarapuava, uma das principais e mais conhecidas ruas da cidade, há cerca de 45 dias atrás, teve suas vias ampliadas. Antes (apenas por pesquisa de memória) tínhamos um calçadão maior, uma via e um lado deixado para estacionamento. Depois a calçada foi diminuída em nome de mais um lado para os automóveis estacionarem. Agora, esse lado do estacionamento foi deixado intacto e o outro foi transformado em via de fluxo. Vale lembrar que há alguns anos, houve uma grande conversa sobre fechar a rua para o fluxo dos automóveis e deixa-la para uso somente dos pedestres, como acontece com a XV em Curitiba. Doce ilusão.
Estive conversando com dois guardas do Guaratran enquanto tirava as fotos para essa matéria, e pude confirmar o que para alguns já está bem claro. “Cidades pequenas não foram projetadas pra essa quantidade de carros que vemos hoje aqui”, disse um dos guardas. Perguntei qual o benefício que uma ação dessas trás na prática, e a resposta foi que o objetivo é melhorar o tráfego, a fluidez dos automóveis que praticamente não andavam mais em horário de pico nessa rua. (Aqui me lembro de uma reportagem que pesquisei para outros fins há tempos atrás de um jornal local que mediu o tempo para se percorrer a pé e de carro toda a extensão da rua, tendo resultados bem semelhantes).
Sim, de fato, para o motorista o fluxo melhorou mesmo, mas aí caímos na questão principal dessa investigação: e para o resto das pessoas e para a cidade em si, melhorou? Bom, eu não pensaria duas vezes para responder que ou piorou ou não melhorou absolutamente em nada. Mas vamos por partes. Primeiro de tudo, temos a questão dos estacionamentos. Com esse fato de agora, perdeu-se um pouquinho mais das vagas “públicas”, o que valoriza o setor privado de vagas. Um fato curioso que chegou aos meus ouvidos foi o do estacionamento da Catedral Nossa Senhora de Belém. Lá existe um espaço relativamente bom e tem uma localização privilegiada, há muito tempo a Igreja disponibilizava-o no horário comercial para freqüentadores da Igreja, dizimistas, etc. Nos últimos meses, estava sendo “invadido” por carros de pessoas que não tinham ligação alguma com a Catedral e estava superlotando o espaço, além disso, ou com isso, houve relatos de ter havido negociações de automóveis no espaço, de agiotagem, relações sexuais e brigas por vagas que por pouco não viraram notícia policial. A gota d’agua foi um quase atropelamento de uma criança da catequese e então, os Padres resolveram fechar de vez o portão. O que acontece é que assistimos de modo passivo espaços que poderiam servir para moradia ou para atividades culturais, ou mesmo para o comércio se transformar em um campo limpo para as carangas pararem. Afinal, não se pode só fluir sem ter onde parar, e aí a atividade econômica que mais anda dando lucro toma conta e a administração pública faz cara de não ter nada com isso.
Resumidamente, para os pedestres, eu acredito que não houve mudanças significativas. Talvez o fato dos carros andarem agora um pouquinho mais rápido deixe a via um pouco mais perigosa para a travessia. Já para os ciclistas, acredito que continua o “nosso” corredor e as novas placas de proibido estacionar nos servirão como mais vagas para os cadeados, já que em toda a extensão da rua, não há nenhum bicicletário, nem mesmo particular. Aliás, esse ponto é um fato, que quero acreditar, ser um dia capaz de chamar a atenção frente à prefeitura municipal, já que colocar estacionamentos apropriados para bicicletas no centro não é difícil de projetar, incentivaria o uso da bicicleta, “despoluiria” os postes e placas, etc.
Esse novo paradigma (ou não tão novo) das pequenas e médias cidades verem suas ruas do centro lotadas de automóveis fazendo barulho, ocupando espaços, poluindo, estressando, procurando vagas sem ir à lugar algum e pior, se deparando com as propagandas da redução de IPI à incitar a próxima compra, mexe com a estrutura da cidade em um todo. Você pode pensar: mais taxas para os motoristas faz com que eles pensem duas vezes antes de tirar o carro da garagem, mas não, isso não acontece de modo considerável, pois quando não há políticas para o pedestre, para o ciclista, para o transporte público, nem políticas efetivas de conscientização para um melhor entendimento entre as partes inseridas no trânsito, o que prevalece é o que já é. Não há mudanças quando só se dá valor à parte mecânica. Acho realmente estúpido estarmos vivendo essa época dá um salto tremendo em números de acidentes, de mortes, de engarrafamentos, poluição, etc, e mesmo assim não há olhos para solucionar nada, só olhos para encher o bolso.
Antes de terminar, mais duas notas.
1- A unica ciclovia de Guarapuava está passando por uma reforma, mas nada que nos faça sorrir. Apenas uma melhora na pavimentação depois de tantos anos e tantos buracos depois, ou seja, já estava devendo essa. Ela continua lá cabendo apenas um ciclista na maioria dos pontos.
2- Enquanto estamos aqui discutindo os problemas de mobilidade urbana e qualidade de vida, o filho do prefeito, nacionalmente conhecido por assassinar dois jovens em Curitiba com seu carro à 190 km/h, espalhou pelos out-doors da cidade essa mensagem que vocês poderão ver abaixo. E que isso aqui nem soe como provocação, porque quem está sendo provocado aqui, somos nós, não tenha dúvidas.
post por Vinicius